A presidente Samia Suluhu Hassan conquistou 97,66% dos votos nas eleições tanzanianas de outubro de 2025, tornando-se a primeira mulher eleita por voto popular no país. Contudo, o processo foi marcado por exclusão dos principais candidatos da oposição, protestos violentos e alegações de fraude eleitoral que dividem opiniões sobre o futuro democrático da Tanzânia.
A Tanzânia viveu um dos momentos eleitorais mais tensos da África recente quando, a 29 de outubro de 2025, a presidente Samia Suluhu Hassan foi reeleita com uma vitória esmagadora de 97,66% dos votos. Este resultado histórico, contudo, ocorre num contexto marcado por profundas controvérsias, exclusão de principais candidatos da oposição e protestos violentos que deixaram um número disputado de vítimas mortais.
Samia Suluhu Hassan, aos 65 anos, torna-se oficialmente a primeira mulher a vencer eleições presidenciais na Tanzânia por voto popular. Anteriormente, havia ascendido ao cargo em 2021 após a morte súbita do presidente John Magufuli, conhecido pelo seu estilo autoritário. A sua reeleição com uma margem tão expressiva coloca-a entre as raras líderes femininas africanas eleitas democraticamente, embora as circunstâncias deste pleito suscitem questões profundas sobre a natureza democrática do processo.
O pleito eleitoral tanzaniano foi precedido por meses de repressão política sistemática, segundo organizações internacionais de direitos humanos. O líder do principal partido de oposição, Chadema, Tundu Lissu, encontra-se preso desde abril de 2025, acusado de traição após defender reformas eleitorais. Outro candidato oposicionista, Luhaga Mpina do partido ACT-Wazalendo, foi impedido de concorrer por alegadas irregularidades processuais.
A controvérsia mais grave envolve o número de vítimas mortais nos protestos pós-eleitorais. O partido Chadema alega que cerca de 700 a 800 pessoas terão sido mortas pelas forças de segurança durante as manifestações que eclodiram no dia da votação e nos dias seguintes. Contudo, o Gabinete de Direitos Humanos das Nações Unidas reporta números substancialmente diferentes, confirmando credíveis relatos de pelo menos 10 civis mortos em três cidades – Dar es Salaam, Mbeya e outras localidades.
Samia Hassan reeleita na Tanzânia com 97,66% em eleição controversa e protestos violentos
A tomada de posse de Samia Hassan ocorreu a 3 de novembro de 2025, numa cerimónia fechada ao público, realizada num campo militar em Dodoma, capital administrativa da Tanzânia. Ao contrário de inaugurações anteriores realizadas em estádios abertos, esta foi marcada por forte aparato de segurança e presença apenas de dignitários convidados, diplomatas e altos funcionários governamentais.
Trajetória de Samia Suluhu Hassan: Da Vice-Presidência ao Poder
A ascensão de Samia Hassan ao poder representa uma jornada singular na política africana. Natural de Zanzibar, nascida em 27 de janeiro de 1960, Hassan construiu a sua carreira política progressivamente, começando como funcionária de desenvolvimento do governo regional de Zanzibar em 1988.
Hassan tornou-se membro do parlamento semi-autónomo de Zanzibar em 2000, sendo nomeada Ministra para o Emprego Jovem, Mulheres e Crianças. Durante este período, tomou uma decisão que marcou o seu legado inicial: acabar com a proibição que impedia mães jovens de regressarem às escolas após darem à luz – uma medida progressista que beneficiou milhares de raparigas.
Em 2015, Samia Hassan foi eleita vice-presidente da Tanzânia na chapa do Chama Cha Mapinduzi (CCM) com John Magufuli. O CCM, partido que governa a Tanzânia desde a independência em 1961, mantém laços históricos com movimentos de libertação africanos e controla efectivamente o aparelho de segurança do Estado.
A morte súbita de Magufuli em março de 2021 trouxe Hassan à presidência de forma automática, conforme previsto na constituição. Magufuli, apelidado de “Bulldozer” pelo seu estilo autoritário e confrontacional, havia negado a gravidade da pandemia de COVID-19, política que Hassan rapidamente reverteu ao assumir o cargo.
Primeiros Sinais de Reforma.
Samia Suluhu Hassan Reeleita na Tanzânia: Eleição Controversa Marca História Africana
O processo eleitoral de 2025 foi marcado por exclusões sistemáticas da oposição. A decisão de prender Tundu Lissu em abril, acusando-o de traição – crime não afiançável que pode resultar em pena de morte se condenado – eliminou o principal rival de Hassan. Lissu, que sobreviveu a uma tentativa de assassinato em 2017 onde levou 16 tiros, tornara-se símbolo da resistência democrática.
Luhaga Mpina, que havia deixado o CCM para se juntar à oposição, foi desqualificado duas vezes por alegadas irregularidades nos procedimentos de nomeação partidária. Com os dois principais rivais fora da corrida, Hassan enfrentou apenas 16 candidatos de partidos menores sem expressão nacional.
As reformas eleitorais introduzidas em 2024 – a Lei de Eleições Presidenciais, Parlamentares e de Conselheiros e a Lei da Comissão Eleitoral Nacional Independente – foram apresentadas como melhorias de transparência. Contudo, críticos argumentam que mantiveram a influência governamental sobre a comissão eleitoral.
O dia 29 de outubro de 2025 transformou-se em cenário de confrontos urbanos em várias cidades tanzanianas. Protestos eclodiram em Dar es Salaam, Mwanza, Dodoma, Mbeya, Arusha e Tunduma, com manifestantes – em grande parte jovens da Geração Z – desafiando o aparato de segurança.
Manifestantes invadiram estações de votação, incendiaram edifícios governamentais e gritaram slogans como “Não queremos o CCM“. Online, um novo apelido ganhou força: “Idi Amin Mama“, comparando Hassan ao notório ditador ugandês Idi Amin Dada dos anos 1970.
As autoridades impuseram restrições ao acesso à internet, bloqueando plataformas de redes sociais como X (antigo Twitter) e limitando a conectividade móvel. Jornalistas estrangeiros reportaram dificuldades em obter acreditação, com o correspondente da CNN Larry Madowo afirmando que a Tanzânia “não gosta de reportagem independente crítica”.
Samia Hassan Reeleita na Tanzânia: Eleição Controversa

A reeleição de Samia Suluhu Hassan marca momento definitivo na história política tanzaniana e africana. Se por um lado representa conquista simbólica para mulheres africanas em posições de poder, por outro levanta questões profundas sobre o estado da democracia no continente e o preço pago por estabilidade autoritária.
A discrepância dramática entre os 800 mortos alegados pela oposição e os 10 confirmados pela ONU ilustra os desafios de verdade e accountability em contextos repressivos. A Tanzânia, historicamente vista como ilha de estabilidade em região turbulenta, enfrenta agora questionamentos sobre o seu futuro democrático e o legado que Hassan deixará para gerações futuras. O mundo observa se haverá espaço para reconciliação ou se a tensão actual marcará o início de período prolongado de conflito político.
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